A Bandeira do Espírito Santo.
COLONIZAÇÃO
Vasco
Coutinho desembarcou na capitania em dia 23 de maio de 1535, desembarcando na
atual Prainha de Vila Velha, onde fundou o primeiro povoamento. Como era oitava
de Pentecostes, o donatário batizou a terra de Espírito Santo, em homenagem à
terceira pessoa da Santíssima Trindade.
Para
colonizar a terra, Vasco Coutinho dividiu a capitania em sesmarias - terras
abandonadas e que, a partir da inclusão deste sistema, deveriam ser cultivadas,
fomentando a agricultura e a produtividade. Esses "lotes" foram distribuídos
entre os 60 colonizadores que vieram com ele. Como em Vila Velha não oferecia
muita segurança contra os ataques dos índios que habitavam a região, Vasco
Coutinho procurou em 1549 um lugar mais seguro e encontrou numa ilha montanhosa
onde fundou um novo núcleo com o nome de Vila Nova do Espírito Santo, em
oposição ao primeiro, que passou a ser chamado de Vila Velha. As lutas contra
os índios continuaram até que no dia 8 de setembro de 1551, os portugueses
obtiveram uma grande vitória e, para marcar o fato, a localidade passou a se
chamar Vila da Vitória e a data como a de fundação da cidade.
Em
seus 25 anos como donatário, Vasco Coutinho realizou obras importantes. Além da
construção das duas vilas, também ergueu as duas primeiras igrejas locais: Igreja
do Rosário, fundada em 1551 (ainda existente) e a Igreja de São João, ambas em
Vila Velha.
Também
foram construídos os primeiros engenhos de açúcar, principal produto da
economia por três séculos. Uma iguaria que reinou absoluta até 1850, quando foi
substituída pelo café. Em 1551, o padre Afonso Brás fundou o Colégio e Igreja
de São Tiago. Foi esta construção que, após sucessivas reformas, transformou-se
no atual Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado.
Com
a chegada de missionários, foram fundadas as localidades de Serra, Nova Almeida
e Santa Cruz, em 1556. Dois anos mais tarde, a vinda de frei Pedro Palácios
resultaria na fundação do principal monumento religioso do Estado: o Convento
da Penha. Uma homenagem a Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo.
Presença Europeia
Nos
primórdios da colonização do Brasil, a cruz e a espada marcam a presença europeia,
símbolos da fé cristã e do poderio militar. No Espírito Santo, como em outras
partes do Brasil que foram colonizados no século XVI, foram frequentes as lutas
pela posse da terra com a Igreja Católica atuando no auxílio ao predomínio
lusitano através da ação dos jesuítas e franciscanos responsáveis pela
catequese dos índios e pela assistência religiosa aos colonos e de seus familiares.
O
colonizador português, responsável pela disseminação do idioma e da fé
católica, queria a terra para explorar, plantar e produzir, e, produziu também
cultura deixada por tradição nas cantigas de roda, nas brincadeiras infantis,
na vestimenta, na culinária e, na arquitetura. O Convento de Nossa Senhora da
Penha é o monumento mais popular do Estado do ES. Outros remanescentes da
arquitetura colonial portuguesa, como as igrejas, que pontificam o litoral
capixaba, e as localizadas na capital, Vitória, e, o casario proveniente deste
período, enriquece a herança cultural lusitana. Destacam-se a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário e o citado Convento de Nossa Senhora da Penha em Vila Velha;
a antiga Igreja de São Tiago, hoje Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual,
a Capela de Santa Luzia, a Igreja de São Gonçalo e a de Nossa Senhora do
Rosário e o Convento de São Francisco e do Carmo na capital Vitória. No
município de Viana há a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e a Igreja de
Araçatiba, que foi sede de fazenda jesuítica que mantinha um engenho com
escravos, residência, senzalas e oficinas. Em Nova Almeida e Carapina distritos
do município de Serra, ainda existem a Igreja e Residência dos Reis Magos, sede
de uma Redução Jesuítica e a Capela de São João Batista, antiga sede de uma
fazenda de jesuítas. Em Guarapari encontra-se a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição e em Anchieta localiza-se a Igreja e Residência de Nossa Senhora da
Assunção, que completa a herança colonial de tradição jesuítica no período
colonial.
A
arquitetura colonial secular e urbana, em Vitória está representada pelos
sobradinhos geminados da Rua José Marcelino, localizados atrás da Catedral
Metropolitana na parte alta da cidade. No bairro de Jucutuquara, a arquitetura
rural do século XVIII encontra um exemplar no casarão onde funciona o Museu
Solar Monjardin, antiga sede da Fazenda que pertenceu ao Barão de Monjardim. A
defesa da entrada da barra era feita por fortalezas como a de São Francisco
Xavier em Vila Velha e a Forte de São João ainda existentes.
Este
legado cultural do período colonial é, sem dúvida, para as terras capixabas, o
mais precioso patrimônio herdado do continente europeu. A partir de meados do
século XIX quando o ES recebe grandes contingentes de imigrantes europeus este
patrimônio se enriquece ainda mais. Na Europa ocorreram revoltas populares que
visavam à unificação dos países que constituem hoje a Itália e a Alemanha.
Estas guerras de unificação e o estabelecimento de um novo Estado geraram um
grande empobrecimento, causando fome e falta de emprego à população pobre, mais
notadamente a camponesa. Os governos desses países impunham "pesados
tributos aos pequenos proprietários de terras, que, vivendo numa economia de
subsistência e artesanal, eram incapazes de cumprir suas obrigações com o
fisco". Esta situação, somado ao desejo de se conseguir riqueza fácil e
farta, fez ocorrer uma emigração em massa de suas populações a outros países,
onde até se ofereciam aos aventureiros lotes de terras tornando-os pequenos
proprietários rurais.
Imigrantes
O
Brasil, em particular, precisava de braços para movimentar suas riquezas, uma
vez que seu sistema de produção escravista começava a definhar. A proibição do
tráfego de escravos a partir de 1850, fez com que houvesse, na opinião dos
proprietários de terras, uma escassez de mão-de-obra, o que poderia prejudicar
a economia Nacional.
A
partir da chegada dos imigrantes, no século XIX, o Espírito Santo ganha nova
configuração geográfica. As barreiras naturais apresentadas, principalmente
pela Mata Atlântica, serão rompidas e o interior, sobretudo o norte do Estado,
até então intocado, recebeu novos habitantes.
O
Espírito Santo recebeu imigrantes de diversas partes da Europa, principalmente
da Alemanha e da Itália que, junto com os portugueses, africanos e indígenas
aqui residentes deram os traços principais da cultura capixaba. Igrejas,
casarios, calçamentos guardam ainda marcas das influências destes povos. Os
sítios históricos de Muqui, Santa Leopoldina, São Pedro do Itabapoana, o
casario do Sítio do Porto de São Mateus e as tradições culturais de municípios
como Santa Tereza, Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante entre outros
compõem a riqueza cultural e econômica do Estado
O
Espírito Santo é o resultado de uma mistura, um encontro de raças que faz a sua
história rica de tradição e costumes. A herança europeia está presente nas
montanhas do interior do ES nas danças italianas, pomeranas, alemãs, holandesas
e polonesas que resistem e renovam-se. Elas foram incorporadas à cultura
popular capixaba e suas apresentações são demonstrações de pura alegria. Na
culinária, uma variedade de pratos. Dos italianos, temos o ministroni,
anholini, tortei, sopa, pavese, risoto, e a famosa polenta. Dos alemães,
chucrutes, geléias, biscoitos caseiros, café colonial e o brot (pão caseiro).
Nos municípios de Domingos Martins, Marechal Floriano, Pedra Azul e Santa
Teresa municípios originários de colônias de imigrantes europeus, acontecem
anualmente festivais que chegam a receber 30 mil pessoas, como a Festa da
Polenta, em Venda Nova do Imigrante, Festa do Vinho, em Santa Teresa, a do
Morango, em Pedra Azul e a Sommerfest, em Domingos Martins.
(Espírito
Santo - um estado singular. Sandra Medeiros p.78)
Santa
Teresa e Domingos Martins serviu de berço para dois cientistas de renome
nacional e internacional, ambos descendentes de imigrantes europeus: Augusto
Ruschi e Roberto Kautsky. O primeiro, destacou-se no estudo dos colibris. Foi
biólogo pesquisador dedicado a luta ecológica, até a sua morte. O segundo,
também já falecido, além de cientista, era estudioso das orquídeas e bromélias.
Outras personalidades descendentes de europeus destacam-se pelo seu
empreendorísmo e dinâmica oferecida por sua ação na economia capixaba. Um deles
é o ítalo-capixaba Camilo Cola, proprietário do Grupo Itapemirim líder no setor
rodoviário no país, e Helmut Meyerfreuld alemão ex-proprietário da Fábrica de
Chocolates Garoto uma das três maiores fabricantes de chocolates do Hemisfério
Sul. Destaca-se também O Grupo COIMEX pertencente à Família Coser um dos
maiores exportadores de café do Brasil junto ao Grupo Tristão também exportador
de café.
Arquitetura
Os
sítios históricos de Muqui, São Mateus, Santa Leopoldina e São Pedro do
Itabapoana também compõem a riqueza arquitetônica do Estado, sendo alguns dos
mais significativos do país. No Sul do Estado destaca-se o Sítio Histórico de
São Pedro do Itabapoana. A região foi colonizada por fazendeiros mineiros e
fluminenses, descendentes de portugueses. Seu casario datado do século XIX, as
ruas estreitas, obedecendo à declividade do terreno com calçamento em pé - de -
moleque e antigas fazendas centenárias se mantém preservadas. Em Muqui,
município vizinho destaca-se o conjunto arquitetônico que concentra o maior
acervo de construções ecléticas do Espírito Santo enriquecidas por ornamentos,
pinturas decorativas, materiais e técnicas construtivas do final do século XIX
e início do século XX, adquirida por uma classe social que se enriquecia e
buscava o conforto e novidades vindas da Europa. Os hábitos de influência
européia desta aristocracia deixaram uma herança que caracteriza o município de
maneira muito especial: o rico patrimônio arquitetônico. Em São Mateus, no
norte do Estado, o velho porto fluvial com seu casario tipicamente colonial,
constituiu também conjunto arquitetônico de grande valor histórico cujo apogeu
sócio-econômico deu-as no final do Império e começo da República. Foi durante o
século XIX com o aparecimento de grandes fazendeiros como barão de Timbuí e
Aimorés, o Porto viveu sua fase áurea, com o surgimento de belos sobrados e
casas comerciais - com suas coberturas em telhas tipo canal e gradios de ferro
importados da Europa, impulsionadas pelo intenso movimento de barcos,
representavam o poderio econômico do Porto.
Na
região central do Estado localiza-se o Sítio Histórico de Santa Leopoldina que
possui 38 imóveis; a maioria localizados na sede do município: são residências
construídas pelos ricos comerciantes da região, descendentes de imigrantes
alemães, austríacos, luxemburgueses, belgas e suíços datadas do final do século
XIX e início do século XX. No interior, o Sítio Histórico completa-se com a
existência de sedes e armazéns de fazendas e de uma igreja localizada no
Distrito do Tirol. Algumas comunidades deste município possuem denominações que
homenageiam países e regiões da Europa como Suíça, Tirol, Holanda, e
Luxemburgo. E outras guardam, como o município vizinho de Santa Maria de
Jetibá, e, o de Vila Pavão, o dialeto Pomerano dividindo com o português a
comunicação entre as pessoas. A religião Luterana também é outra importante
herança cultural. No município de Domingos Martins o templo luterano está
localizado na principal praça da cidade. É o primeiro templo protestante
construído no Brasil. Ainda há o tradicional casamento pomerano que tem noiva
vestida de preto cuja cerimônia pode durar até três dias.
Como
bem já nos registraram os nossos mestres Luiz Guilherme Santos Neves, Léa
Brígida de Alvarenga Rosa e Renato Pacheco "graças aos colonos europeus e
aos seus descendentes, numerosas povoações e cidades surgiram no interior do
Espírito Santo. Muitas regiões, onde eles se localizam, acabaram se tornando
municípios do nosso Estado. Além disso, os europeus, sobretudo os italianos que
vieram em grande número, tiveram notável influência com suas famílias numerosas
na formação do povo capixaba".
Texto:
Luciano Ventorim – Historiador
Fonte: http://www.es.gov.br/EspiritoSanto/Paginas/colonizacao.aspx